quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Trajetória Entrevista com Instrutor André Desterro Capoeira



Comecei minha trajetória na capoeira com onze anos de idade no ano de 2001, com o Dan, professor  que  ministrava  um trabalho social no Centro Comunitário do Bairro Monte Verde em Florianópolis, onde moro até hoje.
          Na  época eu estava  desanimado pois já havia tentado futebol, vôlei,  basquete e em nenhuma modalidade eu me desenvolvia muito bem. Falei sobre esse desânimo com um amigo que já praticava capoeira, e na mesma hora ele falou que eu deveria experimentar. A princípio não me empolguei muito, achei que seria mais uma desilusão, mas acabei topando o convite e fui até o local de aula pra ver como seria. Assim que cheguei  fiquei muito deslumbrado com os movimentos, as  músicas, a energia dos instrumentos e das palmas, e naquele momento já sabia que ali tinha algo diferente dos outros esportes que já havia praticado. Durante a primeira semana só fui para assistir  pois eu era muito tímido.
Pouco tempo depois que comecei a treinar,meu professor viu que o trabalho estava legal, com muitos  alunos e decidiu se filiar a DESTERRO CAPOEIRA para dar continuidade no seu trabalho. Já na Desterro fui pela primeira vez a um batizado, onde presenciei a formatura de mestre do até então professor Mancha. Nesse batizado eu não peguei a minha primeira e tão aguardada corda. No próximo batizado eu fui apresentado para o  mundo da capoeira, lembro que foi um batizado interno, diferente daquele que eu havia presenciado a certo tempo atrás mas mesmo assim minha emoção era enorme. A partir desse batizado comecei  a estudar a capoeira não só como luta mas sua história, sua cultura, seus rituais, e daí nasceu uma paixão muito forte pela cultura afro-brasileira em geral.Meu professor dava aulas duas vezes por semana no meu bairro e outrasduas vezes em um bairro vizinho, como a minha vontade de treinar  capoeira era muito grande combinei com uns amigos da capoeira para começarmos a treinar a semana inteira eles concordaram e marcamos de ir de bicicleta até o outro bairro. Treinávamos de segunda a quinta com nosso professor na sexta íamos pra a sede do grupo treinar com o Mestre e no sábadoagente não faltava na roda da alfândega.
 Permanecemos na Desterro Capoeira durante sete anos onde fui tendo minha formação como capoeirista e cheguei a corda crua-azul de monitor. Fiquei muito empolgado pois era o primeiro passo para alcançar  o meu sonho de trabalhar com capoeira. Mas um ano após eu pegar minha graduação o meu professor  resolveu deixar  o grupo e eu fui junto , pois ele foi meu pai de capoeira e era muito fiel. Foi muito difícil no começo, sofremos uma desestruturação nesse períodomas com muita luta criamos uma associação de capoeira. Comecei a dar aulas gratuitas  e peguei corda azul de graduado. Nesse momento eu já havia formado minha idéia de viver somente com a capoeira fazendo dela minha profissão. Ai então eu senti falta de uma estrutura para fazer essa minha idéia se tornar realidade, e percebi que eu tinha um objetivo diferente dos meus colegas da associação. Ai entãovoltei a procurar a Desterro Capoeira.Chegando na sede do grupo deixei bem claro para o Mestre Mancha meus objetivos para com a capoeira, e minha vontade de trabalhar com ela, fui muito bem recebido edesde então venho recebendo um grande apoio de todo o grupo. Entrei para a faculdade onde curso Educação Física e Esportes e hoje represento o grupo Desterro Capoeira em Florianópolis, desenvolvo um trabalho sólido em pré-escolas, colégios estaduais e municipais, além de um projeto social que cresce a cada dia. Em agosto de 2011recebi mais um incentivo para me motivar mais ainda na conquista de meu sonho, recebi novamente das mãos do mestre Mancha a corda roxa de Instrutor. Hoje só tenho a agradecer a confiança a mim atribuída.
Obrigado a todos que fizeram ou ainda fazem parte dessa história!

Instrutor André
Entrevista
1 – Que dificuldades enfrentou na capoeira?
Na verdade não tive grandes dificuldades ao longo de minha trajetória, sempre recebi um enorme apoio de meus familiares e amigos. Minha maior barreira foi a timidez, sempre fui muito acanhado, e desengonçado tinha enorme dificuldade para fazer os movimentos que a maioria dos meninos da minha idades fazia com facilidadeporem com muito treino a capoeira me ajudou a superar isso muito bem.
2 – Como administracapoeira e família ?
Sempre deixei bem claro para todos os meus familiares o que a capoeira significa pra mim, e eles por sua vez sempre foram bastante maleáveis. Principalmente depois que comecei a trabalhar somente com a capoeira. Com o apoio da família ficou bastante fácil essa divisão de tempo entre os dois, sempre estou bastante presente na capoeira sem deixar de lado minha família.
3 – A capoeira é valorizada mais no exterior do que em seu próprio pais de origem. Qual sua opinião?
Bom eu vejo isso como uma falta de visão dos brasileiros. Principalmente por parte do governo que deveria utilizar a capoeira como “arma” para combater as drogas, a violência, conscientizar para conservação do meio ambiente entre outros inúmeros benefícios que ela proporciona, trabalhos assim que todos nós capoeiristas já desenvolvemos porem sem o apoio que deveríamos receber. Eu gostaria que o brasileiro olhasse mais para seus valores suas culturas pois “a capoeira tem pra mostrar pro Brasil, mas o Brasil não tem nada pra mostrar pra capoeira”(Mestre Curió).
4 – Como é dar aula para crianças?
Dar aula para crianças é uma experiência sensacional e renovadora a cada aula que passa. Aprendo muito com eles pois é um relacionamento muito estreito por conta da extrema sinceridade que eles apresentam, todo esforço, toda paciência que devemos ter no momento de ensinar é absolutamente recompensado quando vemos o resultado que aparece todo dia, pouco a pouco e o sorriso deles ao verem o “professor de capoeira” é emocionante.
5 – Qual foi sua maior realização na capoeira?
Foram alguns momentos que me marcaram ao longo da minha ainda curta trajetória. Mas posso ressaltar o meu trabalho social que em pouco tempo já está muito sólido, e que cresce a cada dia mais e me deu a oportunidade de fazer o que já fizeram por mim no inicio de minha caminhada que é aprender capoeira com o trabalho gratuito em uma comunidade carente ajudando na formação não só do capoeirista, mas sim do cidadão.
6 – O que te fez procurar o grupo Desterro Capoeira?
Bom eu já nasci na Desterro,toda minha trajetória foi trilhada dentro do grupo, fiquei afastado durante aproximadamente dois anos e quando já estava com minha idéia formada de que a capoeira seria minha profissão busquei uma estrutura para isso se tornar realidade e não poderia ser em outro lugar pois já conhecia a filosofia do grupo, o Mestre e toda organização do grupo Desterro Capoeira.
7 – O que você acha do trabalho social que a Desterro Capoeira desenvolve?
Eu acho maravilhosa essa iniciativa, principalmente na atualidade que enfrentamos, as nossas crianças e jovens cada vez mais expostas a criminalidade, as drogas, a violência, e um trabalho como esse conscientiza e previne contra esses e outros malefícios da realidade atual. Esse tipo de trabalho oportuniza que a criança e o jovem tenha acesso ao mesmo tipo de formação seja ele classe baixa, média ou alta pois um dos principais fatores que preservamos na capoeira é a igualdade social proporcionando a aproximação entre comunidades carentes e bairros nobres deixando de lado qual quer tipo de preconceito. Aproximação que acontece de forma intensa nas festinhas e eventos organizados pelo grupo.
8 – Fale um pouco do seu trabalho.
Hoje eu tenho um trabalho estruturado e sólido graças a Desterro Capoeira. Desenvolvo a capoeira em pré-escolas, colégios estaduais, escolas municipais e um trabalho gratuito no salão da igreja do bairro onde moro. Estou com aproximadamente 100 alunos e o trabalho cresce a cada dia. Só tenho a agradecer a Deus e ao Mestre Mancha por todo o apoio que tem me dado.
9 – Qual sua visão da capoeira hoje?
Bom não só minha opinião, mas também estudos que fiz comprovam que a capoeira hoje é a principal divulgadora da língua portuguesa em todo o mundo, ela esta espalhada nos cinco continentes. Já foi tombada como patrimônio cultural brasileiro e hoje é um meio de formação, pois faz com que a criança aprenda seus limites respeitando os limites do seu corpo.
10 – O que é preciso para os órgãos de cultura e esporte darem apoio para a capoeira?
O principal motivo da falta de apoio destes órgãos para com a capoeira, é a corrupção em que nosso país se encontra, desvio de verba que é destinada para cultura e esporte não chega de fato as instituições que promovem esse tipo de trabalho. Acredito que falta ágüem que enxergue o quão grandeé o benefício que podemos alcançar através de cultura e esporte a médio e longo prazo, se tratando da formação das nossas crianças. Só assim receberíamos o devido apoio para o trabalho que todos nós profissionais do esporte desenvolvemos.
11 – Fale um pouco sobre o seu Mestre Mancha e seu trabalho com a capoeira.
Não posso começar a falar dele sem antes comentar que ele sempre foi um espelho pra mim, sempre olhei pra ele e pensei “um dia eu vou ser igual ao mestre...”. Eu li uma entrevista a pouco tempo atrás em uma revista de capoeira que perguntava a  vários mestres o que é necessário para ser um verdadeiro mestre de capoeira, e depois de ver a opinião de cada um deles formei minha própria opinião, e constatei que o Mestre Mancha abrange a todos os pontos levantados pelos outros mestres e ainda mais, pois não conto com ele somente para conselhos sobre a capoeira mas também da vida, uma coisa muita boa de ouvir que ele sempre fala ao fim de nossas conversas é “vai dar tudo certo”. E sobre o trabalho dele nem tenho o que falar, é sensacional toda a história dele desenvolvendo a 16 anos esse trabalho aqui em santa Catarina com certeza é um dos trabalhos mais estruturado e organizados da região e todo esse trabalho vem dando frutos a cada ano e só tende a prosperar cada vez mais.
12 – Quais são seus objetivos e planos com a capoeira?
Tenho inúmeros planos visando inúmeros objetivos com a capoeira, muitos já estão começando a dar frutos que é o meu trabalho social pois sei que dali sairão futuros graduados para dar continuidade no trabalho da Desterro. Viajar muito, ganhar conhecimento aprender cada vez mais e estar sempre em dia com a capoeira, pois ela tem me dado muito e quero sempre retribuir. Dentro de aproximadamente três anos estou me formando bacharel em educação física e isso vai ser mais um degrau alcançado para seguir na realização de meu sonho pessoal e profissional.
13 – Deixe um recado para os capoeiristas e alunos da Desterro Capoeira.
Gostaria de falar a todos os alunos que estão iniciando sua caminhada na capoeira, que se dediquem, treinem, participem, estejam sempre do lado do seu mestre, professor enfim. A capoeira é uma arte maravilhosa e tem muito para dar a todos nós vai de cada um de saber aproveitar esses benefícios. Estudem a capoeira, leiam sobre ela, busquem saber a história dela, o que ela representou e representa até hoje, e que não se preocupem apenas em “jogar as pernas pra cima” mas também com todo o fundamento da capoeira musicalidade, instrumentos, pois quem tem vontade de se tornar um graduado, instrutor, professor enfim,  quanto mais cedo se ligar que a capoeira não é só ali a roda na pratica mas sim todo um contexto vai chegar mais preparado, mais seguro de si mesmo no momento de receber uma graduação de responsabilidade. Por isso nunca deixe de treinar, estudar, entender a capoeira e ouvir os conselhos de seu mestre. Forte abraço Instrutor André.


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